quinta-feira, março 18, 2010

O Making Off da Guerra

Se pararmos para analisar atentamente as coberturas de guerra, veremos que não há muita diferença entre as matérias e a novela do horário nobre.

A história se repete em ambos os casos, personagens perdidos em meio a um sofrimento, vilões e brigas. E por trás de tudo isso uma grande produção. Produção esta que torna a novela emocionante, que prende os espectadores, mas que na guerra manipula, esconde e omite.

Robert Fisk ilustra essa idéia perfeitamente em "A guerra por dentro". No texto, o autor aborda a questão delicada das guerras, e principalmente, o que não vemos delas.

Estamos acostumados a presenciar, seja na internet, jornais ou na televisão, a parte "bonita e heróica" de uma guerra, se é que isso possa existir em meio à desgraça e destruição. Podemos perceber em Robert Fisk, a vontade de mostrar e alertar para o modo com que as guerras são mostradas, e evidentemente o que nos é escondido - o making off da guerra.

As guerras são tão antigas quanto o próprio ser humano, que desde as épocas romanas se divertiam com gladiadores na famosa política do "Pão e Circo", buscando liberdade e Paz por meio de batalhas. E então, percebemos no interior do ser humano a violência como forma de diversão, defesa e solução de problemas.

O fato é que essa solução violenta nem sempre é mostrada com a devida veracidade. Quem está num país que não participa do conflito, por exemplo, muitas vezes não tem noção dos motivos e dos meios da guerra. As imagens da guerra são fortes, são cenas extras, como aquelas que não são mostradas no cinema por serem deveras ofensivas.

Uma guerra move e comove um país inteiro, uma nação, uma pátria. E justamente por isso, a omissão e a sonegação de importantes informações são frequentes. Robert Fisk cita, por exemplo: "A causa da morte foi apagada em nome do bom gosto". E então deixo a pergunta: Existe bom gosto na guerra?

E quando a causa de uma morte é apagada, há interferência nos fatos, ou mais, alteração na história. E essa manipulação é feita em nome do "bom gosto" pregado pelos maiores, sejam eles donos dos meios midiáticos, políticos ou influentes cidadãos. O curioso também é que jamais, nenhum desses poderosos estiveram numa batalha, nunca presenciaram esses atos desumanos.

O que chama atenção no texto de Robert, também, é que a família além de perder um membro, não tem nem a dignidade de poder mostrar o que realmente aconteceu, sofre em silêncio.

E enquanto o mundo viver no mundo do Pão e Circo, onde a diversão impede a manifestação dos reprimidos, será difícil mostrar o que não nos deixam ver. Será impossível conscientizar a humanidade das crueldades que a guerra traz.


Quer ler o texto de Robert Fisk? Clique aqui: http://www.revistaforum.com.br/fisk.htm